O manual de uma AI House

6 de agosto de 2025

Nos últimos anos, a Inteligência Artificial deixou de ser um tema acadêmico para se tornar um divisor de águas nos negócios, mas a medida que ganhou espaço, ficou evidente que a maioria das empresas não sabe o que fazer com ela.

Em 2017, o paper Attention Is All You Need mudou o jogo e abriu caminho para a IA Generativa. Em novembro de 2022, o ChatGPT sacramentou essa evolução e colocou a IA no centro das conversas.

Desde então, tenho observado e participado de estudos e projetos para entender como empresas de tecnologia, inovação e consultoria reagiram a essas mudanças.

Uma nova categoria começou a surgir, algo que reúne o pensamento estratégico da consultoria, a capacidade de execução da engenharia de software e a velocidade adaptativa da inteligência artificial. Um modelo híbrido, necessário para resolver problemas que por sua vez são complexos demais para um produto padronizado, específicos demais para um serviço genérico e amplos demais para depender apenas do trabalho manual.

É aí que surge a AI House!

Aqui está o que já entendi:

  1. Uma AI House não é uma software house. Ela não entrega código por hora, ela orquestra tecnologias, integra ferramentas e resolve dores de negócio com Inteligência Artificial.

  2. Uma AI House não é uma consultoria. Ela não se limita ao planejamento, ela implementa as soluções e refaz rapidamente o planejamento se a dor não for resolvida, a IA permite essa velocidade de troca de direção.

  3. Uma AI House não é uma agência. O trabalho não é pontual ou acessório, é contínuo, criando soluções que permanecem ativas e se aprimoram com o tempo sustentadas por uma parceria duradoura.

  4. Uma AI House não é uma startup SaaS. Não resolve um único problema de forma fixa obrigando a empresa a se ajustar ao sistema. Constrói um ecossistema vivo de soluções adaptáveis a diferentes contextos.


Ela opera sob um novo modelo que podemos chamar de Service-as-Software, a união da profundidade de um serviço com a escalabilidade de um software.


Então... quais as características de uma AI House?

1 - Começa com uma cultura direcionada para inovação.

A Inteligência Artificial é probabilística, não determinística, logo, errar faz parte do processo e penalizar o erro é matar a experimentação.

Quando criamos a New Rizon em 2008, já apostávamos em métodos ágeis, num momento em que esse conceito ainda era pouco difundido no Brasil. Até hoje, quando digo que prefiro escopo fechado incremental ao escopo aberto, ouço que é loucura.

Foi essa mentalidade que nos levou a atuar com IA em 2009, a sermos pragmáticos com o princípio DRY e a reaproveitar tudo o que era feito. Nossa primeira IA foi um gerador de código que aprendia a cada projeto.

O que parece loucura para alguns é o combustível da inovação para outros. Hoje a New Rizon atua com um escopo orientado a descoberta e resultados, nem aberto, nem fechado, mas ambos.

É pensar: "Como podemos fazer isso sem intervenção humana?" antes de pensar "Como podemos fazer isso melhor?". É uma mudança de paradigma que permeia todas as decisões da empresa.


2 - Possui uma obsessão por resolver problemas reais

Uma AI House não se deixa levar por ótimas ideias, por mais tentadoras que sejam.

O ponto de partida precisa sempre ser uma dor real do negócio, algo que está travando crescimento, aumentando custos ou reduzindo competitividade.

É uma abordagem outcome-driven, e não feature-driven. O jogo muda aqui, pois o critério de sucesso é simples, a dor foi resolvida ou não? Sem espaço para justificativas técnicas que escondam a falta de resultado.

O foco na dor também significa não ter apego a uma única tecnologia. Se for mais rápido usar uma ferramenta no‑code do que desenvolver do zero, essa será a escolha.

Nada de roadmaps longos e estáticos, o foco fica em ciclos curtos focados em resolver dores específicas, com metas objetivas, mesmo em projetos de longo prazo, ganhos rápidos precisam existir o tempo todo.

Essa abordagem abre para a AI House a possibilidade inclusive de ganhos variáveis a partir do resultado gerado.

A execução deve ser fragmentada, uma dor de cada vez, mas a estratégia é única. Cada solução local é planejada para se conectar às demais, compondo um ecossistema coerente que avança sempre na direção do objetivo estratégico. Assim, os stakeholders percebem valor nas primeiras semanas, e cada iteração fortalece a confiança, transformando a solução em parte da engrenagem real da empresa e não em um recurso isolado.


3 - Entende o contexto e sabe que nem todo problema precisa de IA

Antes de qualquer proposta, avalia se existem dados suficientes, se o custo-benefício se justifica e se o desafio é realmente técnico ou de outra natureza, como processos ou gestão. Esse discernimento evita investimentos mal direcionados e garante foco no que realmente importa.

Ao mesmo tempo, a AI House se especializa em contextos de negócio específicos. Falar de IA sem entender o setor é encenação. É por isso que ela mergulha nas verticais em que atua, é impossível, por exemplo, ter sucesso em um projeto para o mercado financeiro sem ninguém no time que entenda de finanças.

Essa combinação de profundidade setorial e escolha criteriosa das tecnologias permite criar soluções sob medida que têm escala, porque se adaptam à realidade e à estratégia do cliente. Empresas que se definem apenas como “especialistas em automação com N8N”, “experts em GPT‑4” ou “criadoras de agentes” têm vida curta.

Ao entender as limitações e unir discernimento tecnológico com conhecimento profundo do setor, a AI House constrói uma vantagem competitiva difícil de copiar.


4 - Tem um time essencialmente multidisciplinar.

Sem essa conversa de substituição de pessoas, cada função é essencial. Designers entendem o fluxo real de uso e traduzem isso em experiências que não criem novos gargalos. Product managers pensam em resultados de negócio, não apenas em entregas. Engenheiros de dados que falam a língua dos executivos. Desenvolvedores que entregam soluções a partir de componentes pré-definidos, com foco em rápida validação e fácil manutenção.

Além disso, existe um novo tipo de profissional, o Forward-Deployed Engineer, parte engenheiro, parte consultor de negócios, uma espécie de antropólogo organizacional.

Ele pode ter diferentes cargos, mas sua função é mergulhar na operação da empresa para entender como o trabalho realmente acontece, mapear fluxos não documentados e codificar conhecimento tácito.

É nesse mergulho que ele descobre que a Maria, do financeiro, mantém uma planilha "secreta" para corrigir manualmente dados que o ERP não processa bem. Que toda sexta-feira, o processo de aprovação muda porque o diretor está em reuniões externas.

São esses detalhes invisíveis nos relatórios que, quando revelados, definem o sucesso de um projeto de IA.


5 - Sempre faz um diagnóstico profundo antes de qualquer execução

Uma AI House faz diagnósticos profundos antes de propor qualquer solução. A primeira entrega não é código, é clareza!

Esse diagnóstico combina análise de dados, observação em campo, entrevistas com equipes e mapeamento de processos formais e informais.

O objetivo é colocar uma luz sobre a operação, criando um retrato fiel que revela tanto os fluxos documentados quanto aqueles que só existem na prática.

Parte desse trabalho é avaliar a "prontidão para IA" da organização, ver a qualidade dos dados, maturidade dos processos e abertura cultural para experimentação.

É importante lembrar que estamos falando de empresas de diferentes setores e não de tecnologia, elas não podem gastar em soluções que não geram valor apenas para dizer que "usam IA".


6 - Consegue ter velocidade através de componentes prontos

Uma AI House aproveita ao máximo tecnologias já prontas.

No mundo atual, a alta tecnologia está cada dia mais acessível, existem bibliotecas testadas, sistemas open-source, soluções SaaS e inúmeras soluções em nuvem, podem e devem ser usadas para acelerar entregas e reduzir riscos.

O valor real não está em escrever cada linha de código do zero, mas em orquestrar essas peças para resolver problemas específicos do cliente.

Essa filosofia é de pragmatismo radical, se 80% da solução pode ser entregue integrando APIs existentes, concentramo‑nos nos 20% que realmente diferenciam e geram vantagem competitiva.

O objetivo é chegar rápido a uma primeira versão funcional, validada com dados reais. Ao ter cada passo guiado por evidências, não por opinião, conseguimos alcançar o feito buscado aqui no item 4, garantir a confiança para problemas complexos.

Cada projeto adiciona módulos ao "kit de ferramentas" da AI House, acelerando implementações futuras.


7 - Mantém os sistemas vivos

Uma das maiores diferenças entre uma AI House e uma empresa tradicional de consultoria ou tecnologia está na natureza da relação com o cliente.

Tecnologia tradicional é vendida como um projeto, você compra, acompanha o processo, implanta e usa.

Uma AI House estabelece uma parceria de longo prazo, porque suas soluções precisam evoluir constantemente.

A IA muda o tempo todo, novos modelos surgem mensalmente, APIs são atualizadas, capacidades emergem e desaparecem. Algo que funciona perfeitamente hoje pode se tornar obsoleto em poucos meses se não for atualizado. Além disso, os negócios também mudam, novos entrantes, novas regulamentações, alterações de mercado, crescimento da equipe.

Por isso, monitorar performance, coletar feedback e implementar melhorias de forma proativa, sem esperar que o cliente reporte problemas tem que ser tarefa essencial dentro de uma AI House. À medida que acumulam dados e interações, as soluções se tornam mais inteligentes, identificando padrões sutis, prevendo problemas e sugerindo otimizações que muitas vezes escapam até dos usuários.

Isso vai muito além da automação tradicional, que apenas replica tarefas humanas, é criar sistemas que entendem contexto, aprendem com resultados e evoluem suas estratégias construindo inteligência e vantagem competitiva que se fortalecem com o tempo.


8 - Não existe uma linha entre pré-venda e pós-venda

O modelo tradicional de vendas enterprise seguia um roteiro previsível de qualificação de leads, demonstração, avaliação técnica, negociação e, só então, implementação. A AI House quebra essa linearidade. Soluções de IA não podem ser avaliadas de forma abstrata, seu desempenho depende dos dados, fluxos e contexto específicos de cada cliente. É por isso que a demonstração genérica não serve, o cliente precisa ver a solução rodando com seus próprios dados, no seu ambiente real.

Uma POC com dados reais não promete resultados, mostra! Há uma entrega de versão funcional e integrada ao contexto do cliente antes da assinatura do contrato. Assim, a AI House comprova que pode gerar impacto, e o cliente comprova que está pronto para adotar a solução. Com o contrato fechado, a implementação que já começou durante a venda, torna a transição para a versão completa muito mais fluida.

Esse processo exige investimento e trabalho antes do fechamento, mas cria um nível de confiança impossível de alcançar com apresentações.

O resultado são contratos mais sólidos, expectativas alinhadas e taxas de sucesso muito maiores do que no modelo tradicional.


Concluindo...

A Inteligência Artificial não é uma tecnologia, é uma ciência. Ela combina computação, matemática, estatística e até linguística, unindo fundamentos exatos e humanos.

As AI Houses não são diferentes, por isso, estão surgindo como uma força que irá transformar indústrias inteiras. Elas formam um novo tipo de time, que combina habilidades que tradicionalmente não coexistiam na mesma empresa, são pessoas que entendem tanto de tecnologia quanto de negócios, tanto de automação quanto de gestão de mudanças, tanto de dados quanto de relacionamento com clientes.

O sucesso de uma AI House está diretamente ligado ao sucesso do cliente. A relação muda e a escalabilidade é diferente, não falamos em replicar o mesmo para todos, mas reaproveitar componentes técnicos e inteligência para criar o único para cada cliente.

Cada projeto adiciona módulos ao repertório da empresa, acelerando implementações futuras. Cada vertical dominada se torna uma plataforma para expandir para verticais adjacentes.

O mercado de Service‑as‑Software tem potencial para transformar o mundo do trabalho com a mesma força que a internet transformou o comércio. Temos o privilégio de estarmos no início dessa curva e é agora que se define quem vai liderar essa transformação.

Sobre o autor

Henrique de Castro

CEO da New Rizon

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